Meu caro (e sim, este é direccionado em particular a ti meu amigo...), penso que o que tu respondes no comentário ao post anterior sobre a simplicidade da vida não foge muito daquilo que eu penso sobre a mesma. Daí que eu discorde profundamente (como tu), mas desta vez com a tua própria discordância... Passo a explicar:
Acho de facto que a vida é simples. Houve alturas em que não o sentia mas ultimamente entendo que sim. Também sei que o faço pelo meu actual estágio de vida (daí falar tantas vezes em experiências adquiridas, a vida ensinou-me isto e aquilo, etc (vulgo conversa de velho, mas enfim...)). A vida é simples para mim somente porque há muita coisa à minha volta que não entendo e ao mesmo tempo também não posso lutar contra. Logo tenho que aceitar algumas situações como se me demonstram. E não, não estou a falar de uma atitude passiva perante a vida e da aceitação de tudo e mais alguma coisa, mas antes da incapacidade que temos, enquanto Seres Humanos (logo limitados) de lutarmos contra algumas fatalidades. Exemplos? Desde a criação de expectativas e a sua quebra num momento de viragem/ auge, passando pela fatalidade da perda de alguém (família, companheiro/a ou amigo), até a um acidente não tão grave que afinal poderia (mas não foi) ter sido bastante mais... Outros exemplos haveria, mas penso que me faço entender. Assim, a simplicidade da vida, para mim claro, vem do facto de termos (palavra-chave) que aceitar algumas situações como se nos apresentem. Temos simplesmente que viver com elas, não há volta a dar. Logo, é simples. Uma Musa um dia disse-me: "Things are like they are". Eu só corrigiria dizendo que "Some things (...)", mas no fundo ela tem a sua parte de razão.
Agora, isto não me impede de ser impulsivo (principalmente no que a relações diz respeito) mas tendo ganho um pragmatismo ainda maior do que o que já tinha: se tiver que ser (com maior ou menor motivação de quem quer que seja) será. Caso contrário, cá estamos e a vida continua.
O facto de querer corresponder às expectativas, sou sincero, prende-se mais com a minha vida profissional (que como sabes está numa fase...
suis generis) e com o facto de ter alguma responsabilidade em cima dos ombros, nada poder falhar e o dia precisar de ter umas horinhas a mais. Embora esteja sempre a ser posto à prova, gosto do que faço e sei que faço o melhor que sei e posso. Mas não posso patinar e o acidente veio-me criar 15 dias de interregno (intermitente, mas a meio-gás pelo menos...) que agora tento recuperar e não é fácil. Faz-se, mas sai-nos do pêlo! Sinceramente, tinha a ver com isto.
Quanto ao aceitarem-me como sou, meu caro, se há alguém que vai vivendo bem consigo próprio, sou eu! Mas poderá eventualmente ter a ver com a estória do relógio do teu post, não sei... Todos nós, por maior simplicidade que se reja a nossa vida, temos os nossos esqueletos nos armários! E eu, cá tenho os meus. Não dizendo que estou curado daquela doença que me faz dar respostas surpreendentes sobre visitas ao hospital, vivo bem com isso hoje em dia. Já não me atormenta como antigamente. Simplesmente tornou-se um facto da minha vida. Mais um.
Aceitemos-nos como somos. Vivamos o que pudermos. Sem dúvida. Era esse o
core do meu outro post. Dizemos o mesmo mas com uma volta diferente. E o facto de sentir necessidade de escrever tão longo post só sobre isso, dá-te razão: a simplicidade procura-se em algo de extrema complexidade. Mas o facto de vivermos simples uma vida complicada que somos obrigados a descomplicar, como tu dizes, dá-me, nem que seja um bocadinho, razão na minha visão...
Simples não?
P.S.: Acima de tudo a vida que temos resume-se às decisões que tomamos e às pessoas que queremos que nos rodeiem. Eu penso que estou rodeado de pessoas que me enchem de orgulho/ alegrias, que não trocaria por nada e que agradeço com regularidade existirem na minha vida (não sei muito bem a quem, mas faço-o!). As decisões vou-as tomando, bem ou mal, sempre com o apoio de um ou outro elemento desse círculo de que tanto me orgulho...
P.S.S.: Acredita que situações extremas nos colocam a vida/ amigos/ família num patamar relativo de importância bastante mais elevado. Passamos a olhar com olhos diferentes para tudo. Há uns que se dedicam ao Budismo. Eu fico lamechas. É mesmo só para quem gosta... ;)